EWÁ
Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a Rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o Orixá que transforma a água de seu estado liquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas.
Quando olhamos para o céu e vemos as nuvens formando, às vezes, figuras de animais, de pessoas ou objetos, não nos importamos muito. Porém, ali está Ewá, Rainha da beleza, evoluindo solta pelos céus, encantando e desenhando por cima do azul celeste da atmosfera da Terá. Ewá é também o inicio da chuva, regida por sua mãe Nanã. Este seu principal encantamento: o ciclo interminável de transformação da água em seus diversos estado, incluindo o sólido. Ela, como todos os outros, está entre nos no cotidiano, convivendo e influenciando nosso comportamento, mexendo com nosso destino, gerando situações que vamos viver diariamente.
Ewá também esta ligada às transformações orgânicas e inorgânicas, que se sucedem no Planeta. É a mágica da transformação. Está ligada à mutação dos animais e vegetais. Ela é o desabrochar de um botão de rosa; é a lagarta que se transforma em borboleta; é a água que vira gelo e o gelo que vira água; faz e desfaz, num verdadeiro balé da Natureza.
Senhora do belo, Ewá é aquela que vai dar cor ao seres; torná-los bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade; a fragilidade das coisas; a transformação das células, gerando o que há de mais lindo no mundo. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo,; é o respeito pela maravilha que o mundo apresenta.
A força natural Ewá é ligada também à alegria, dividindo com Vungi (Ibeji) a regência daquilo que se chama ou se tem como feliz. Está presente nas coisas e nos momentos alegres, que têm vida.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas, sopradas ao vento; na queda da chuva; no assovio dos ventos; na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe Natureza.
Ewá é a própria beleza. É o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bom. É a vida...
Mitologia
Ewá é filha de Nanã, irmã de Obaluaê, Ossãe e gêmea de Oxumarê. Apesar de gêmea, foi a segunda a nascer sendo, assim a caçula dos filhos de Nanã. Cada um dos filhos regia algo: Obaluaê, as pestes e moléstia contagiosas; Ossãe, as ervas, as plantas e seus segredos e mistérios; Oxumarê, o arco íris, a riqueza.
Ewá nada regia. Era apenas uma menininha bonita, formosa, cheia de encantos. E assim cresceu, bela e de brilho intenso.
Pouco a pouco, os homens foram se interessando por ela, tal era a sua beleza. Muitos pretendente chegavam, de todas as partes, com a intenção de desposar Ewá, pois usa beleza era tão grande que sua fama chegou a todos os reinos.
Em pouco tempo o reino de Nanã estava cheio de supostos noivos, que lutavam entre si para conquistar o coração da jovem Ewá. As lutas foram crescendo e tomando proporções, a ponto de, em cada canto do reino, haver um grupo em luta, com um só objetivo: desposar Ewá, Isso tudo fugiu ao controle de todos, pois o encanto do jovem parecia enfeitiçar os homens, a ponto de matarem-se uns aos outros.
A situação já passara dos limites e os pretendentes, que não paravam de chegar, foram até a própria Ewá, obrigando-a a escolher um deles. Isto acontecia aos gritos, empurrões, exibições de força e poder, cobranças violentas, barulho, levando a jovem a um desespero que jamais sentira.
A pressão foi tão grande, mas tão grande que, de repente, ouviu-se um grande estrondo. Todos se calaram, voltaram-se para Ewá e ficaram imóveis, estáticos, e de olhos arregalados com o que estavam vendo.
Ewá, impossibilitada de escolher um noivo, e atormentada por ver tanta morte e confusão por sua causa, começou a se transformar. Como um reflexo do sol, sua silhueta começou a perder a forma, até que restou apenas um poça d’água no chão. Aos poucos, aquela poça foi evaporando e subindo em direção ao céu. Os homens, pretendentes, não se moviam, só acompanhavam a evaporação, bem visível e o vapor subindo.
Em pouco tempo uma enorme nuvem branca, contrastando com o azul-claro do céu, foi desenhando um coração, numa visão de raríssima beleza. Ewá não se casou com ninguém, mas colocou na mente dos homens que o amor nasce naturalmente, não com disputas e guerras.
Assim, Ewá transformou-se e recebeu o poder de ir ao céu , como nuvem e voltar à terra, como água, permanecendo como o símbolo da beleza, do canto e da alegria.
Dados
Dia: sábado
Data: 13 de dezembro;
Metal: ouro, prata e cobre;
Cor: vermelho maravilha;
Partes do corpo: olhos;
Comida: banana inteira da terra feita em azeite de dendê com farofa do mesmo azeite.
Arquétipo: tendência a duplicidade devido a natureza andrógena da deusa, tendência a riqueza, magnetismo, gosta de jogar, bonitos, gostam de elogios, imediatistas, necessitam de outros odus para que ajudam com seu brilho nos processos difíceis.
Símbolo: ejô (cobra) e espada.
IANSÃ
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios.
Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente.
Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos. É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme.
Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento.
Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma.
Iansã é a deusa dos cemitérios. Ela é a regente, juntamente com Omulu (ou Obaluaê), dos Campos Santos, pois comanda a falange dos eguns. Comanda também a falange dos Boiadeiros, encantados que são cultuados nas casas de Nação de Angola. Ela é sua rainha.
Como deus dos mortos, Iansã carrega consigo o eruxin, feito com rabo de cavalo, para impor respeito aos eguns, bem como a espada flamejante, que faz dela a guerreira do fogo.
É, sem dúvida, o Orixá mais popular e a mais querida no Candomblé.
Mitologia
Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.
Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.
Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.
Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:
- Como vai o Senhor das Chagas?
No que Obaluaê respondeu:
- O que Oyá quer em meu reino?
- Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!
(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).
Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;
- Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.
- Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!
De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.
Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso... aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo...
E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.
Dados
Dia: quarta feira
Data: 4 de Dezembro
Metal: Cobre
Cor: Marrom
Partes do corpo: fígado e o sangue.
Comida: acarajé, abará.
Arquétipo: É de pessoas audaciosas, poderosas e autoritárias, pessoas que podem ser fieis, de uma lealdade absoluta em certas circunstancias, mas que em moutros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar pelas manifestações da mais extrema cólera. Pessoas, enfim, cujos temperamentos sensual e voluptuosos podem levá-las a aventuras amorosas extra conjugais, múltiplas e freqüente, sem reservas de decência, mas que não as impedem de continuarem muito ciumentas com seus parceiros por elas mesma enganados.
Símbolos: espada de cobre e o eru (rabo de boi ou de búfalo)
LOGUN-EDÉ
É o resultado do encanto, ou do encantamento, de Oxossi Ibualama e Oxum Ieopondá. Divindade dos rios, Senhor da Pesca, que vive seis meses com o pai, Oxossi, na caça e seis meses, com a mãe Oxum, na água doce.Erradamente considerado como um Orixá “meta-meta”, ou seja, de dois sexos, Logun-Edé é um Orixá masculino, embora divida o tempo com os pais.
Logun-Edé é a beleza em pessoa. O encanto dos jovens, o namorado, o flerte. Logun rege a ingenuidade do jovem, a adolescência, a beleza adolescente. Seu encanto está no primeiro beijo, no primeiro abraço, na primeira oportunidade das “mãos-dadas”, no primeiro carinho.
Está presente no brilho do olhar, no perfume das flores, numa paisagem singela. É também o deus da arte, o principio daquilo que é belo e terno. É o príncipe das águas doces, da caça, da alegria e do jovialidade.
Encontramos Logun-Edé num grupo de jovens, na musica que os aproxima, no conhecimento e no encontro, na alegria de viver livremente. Porém, encontramos Logun-Edé também nas intrigas, nos segredos maldosos, pois ele é capcioso, matreiro, inventivo, meio moleque.
Mas, Logun-Edé rege fundamentalmente o carinho, o gesto meigo, o afago, pois trata-se de um Orixá extremamente dengoso, dependente, ciumento, singelo e manhoso.
É o deus da juventude, dos estudos. Sua presença é marcante nos colégios, escolas, faculdades, enfim, em todas as instituições de ensino, onde se concentram os jovens.
Logun-Edé é o encanto, o sorriso, o piscar de olhos, a vida jovem e ativa.
Também está encantado no mato baixo, nas matas pouco densas e, principalmente, nos rios, sua morada predileta.
Está ligado – como o pai, Oxossi – às artes de pintar, esculpir, escrever, dançar, cantar e a todas as atividades. Está ligado ao banho, pois também é filho de Oxum, deusa das águas doces.
Resumindo, Logun-Edé rege o romance, o namoro, as amizades, sendo ele o responsável pelos gestos amigos e sinceros entre as pessoas. Está encantado, também, nos pequenos animais, como o coelho, o porquinho da índia e os pequeninos pássaros.
Mitologia
Como já disse, Logun-Edé é o filho de Ibualama e Ieponda. Tem ele três irmãos: Ode Ifá, ligado ao ar, afilhado de Oxalá; Ode Issambô, ligado às plantas, afiilhado de Ossãe; e Ode Ilê, afilhado de Exu.
Logun-Edé sempre foi considerado como príncipe, filho de reis. Menino arisco, teimoso, levado, brincava sempre além dos limites da regência de sua mãe Oxum, que era a cachoeira. Porém, era admirado por todos, e muito querido também.
Certo dia, o príncipe Logun-Edé, contrariando as ordens do pai e da mãe para que não brincasse perto do rio por ser perigoso, resolveu arriscar, atravessando de uma margem à outra, montando num tronco de árvore.
Subitamente, o tronco virou e Logun-Edé foi para no fundo do rio. Mesmo sendo bom nadador, Logun não conseguia chegar à tona.
Aflitos, e pressentindo algo de errado, Oxossi e Oxum, seus pais, resolveram ir atrás dele e chegaram até o rio. O coração de mãe não se enganou. Oxum sabia que filho estava no fundo do rio e apelou para a força de Olorun, a fim de recuperar seu primogênito.
- Pai,- disse ela – não deixe que meu filho se afogue. Eu sou a Rainha das águas doces, e não poderia perder meu filho justamente no fundo de um rio. Salve-o Pai, salve-o!
E Oxossi também apelou ao pai Olorun:
- Não deixe que meu filho morra, Olorun, não permita!
E Olorun, atendendo aos pedidos do deus da caça e da deusa das cachoeiras, ergueu Logun-Edé do fundo do rio e advertiu:
-Ai está seu filho que, por sua teimosia, quase perde a vida. De agora em diante fica Logun-Edé, filho de Ibualama e filho de Ieponda, com a obrigação de zelar pelos rios e prover a pesca.
E, assim, Logun-Edé passou a reinar nos rios, a cuidar deles e ajudar aos pescadores.
O elemento de Logun-Edé está ligado aos pais: terra e água, dando a ele os poderes do pai e os da mãe.
Dados
Dia: quinta feira;
Data: 19 de abril;
Metal: Ouro;
Cor: azul celeste e amarelo;
Partes do corpo: as mesmas correspondentes a Oxossi e Oxum;
Comida: axoxo (feita com milho amarelo e coco) e omoolucun (feita com feijão fradinho e ovos);
Arquétipo: altruístas, abnegado, sinceros, simpáticos, tensos, austeros, possuem senso de coletividade, calmos, desprendidos, inconstantes, vaidoso e sonhadores.
Símbolos: abebê e ofá
OBÁ
Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos. Mulher de Xangô.
Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.
Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.
Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.
Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.
Pela lenda, Obá foi enganada por Oxum, que a levou a corta sua própria orelha para oferecer a Xangô, Ele, num gesto de repugnância, expulsou-a de seu reino. E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou com marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos. Daí sua regência também nas enchentes e inundações. É um ato de excesso, de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por esta força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seus encantamento, sua influência.
Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.
Mitologia
Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.
E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muito a se confrontar com ela, mas saíam sempre derrotados. E a noticia chegou ate Ogum, rei de Ire e, guerreiro invencível.
O mensageiro trouxe a noticia:
- Meu senhor, ela é invencível!
- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.
- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!
- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.
E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.
Obá recebeu a mensagem e retrucou:
- Que assim seja...
Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.
A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.
Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé. Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha. Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida. Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, Por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.
Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 30 e 31 de maio;
Metal: Cobre;
Cor: marrom-rajado;
Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;
Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);
Arquétipos: são pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seu insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.
Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.
OGUM
É o Orixá Senhor das contendas, deus da guerra. Seu nome, traduzido para o português, significa luta, briga, batalha. É a divindade da metalurgia, do ferro, aço e outros metais fortes. Ogun é a força incontrolável e dominadora, do movimento, do choque. Patriarca dos exércitos, dono das armas. Ogum é o poder do sangue que corre nas veias. Orixá da manutenção da vida.
Como Exu, Ogum está presente no calor, na ira, no ódio, na cólera. Está presente nas batalhas, brigas, empurrões, na vontade de exterminar. É um Orixá, uma força da Natureza que se faz presente nos momentos de impacto e nos momentos fortes.
O encantamento de Ogun, aquilo que gera sua presença, se faz, como disse antes, nos momentos de impacto, tais como o choque entre dois objetos de metal; uma colisão no ar, no mar e na terra; no estrondo de algo pesado caindo ao chão. Seu encanto está na explosão, no derramamento do ferro fundido.
No dia a dia vamos encontrar esta força denominada Ogun nos estaleiros, nas oficinas de lanternagem, nos ferreiros, nos quartéis, no disparo de uma arma, no ato de se afiar uma lâmina, no trabalho com um serrote, no choque do martelo fincando um prego na parede, no despertar de um relógio, num grito de raiva na dor aguda.
A faca que penetra na carne, a bala que fura a carne, faz o encantamento da força da Natureza, Ogun. É o orixá do impacto, da detonação. O sangue que corre em nosso corpo é um fenômeno regido por Ogun. A vida mantida acesa num ser, é regida por Ogun, Orixá da defesa e da guerra, ele pode até evitar uma briga, mas gosta de lutar e é imbatível.
Ogun também é a viagem, a estada longe, os veículos. Ogun é a jornada, a empreitada, a luta do dia a dia.. É a estrada de ferro, o impacto do trem nos trilhos. Ele é o próprio trem... ele é o próprio trilho.
Considerando como um Orixá impiedoso e cruel, ele pode até passar essa imagem, mas sabe ser dócil e amável. No candomblé é o grande general, marechal e todas as lutas, o grande guardião, pai rígido e severo, mas apaixonado e compreensível.
Ogun é franqueza, a decisão, a convicção, a certeza, o fato consumado, as vias de fato. Ogun é o empilhamento de metais, a bateria que gera a energia, a pilha; é a própria energia, vibrante, incontrolável, devastador, Ogun é a vida em sua plenitude.
Ogun também está presente nas construções, nas edificações, no cimento que vai unir tijolos e construir casas. Ogun é a muralha, o obstáculo difícil de ser vencido. É o amianto, o aço, o ferro, a bauxita, o manganês, o carvão mineral, a prata, o ouro maciço, o diamante em estado bruto.Ele é também a lapidação, o aparelho cirúrgico, o aparelho dentário, o próprio dente. É o ato de cortar, morder, devorar, sem piedade e com a negritude da fome. Ogun também é o zinco, o cobre, o alumínio, o parafuso, o prego, a mola, a viga, a estrutura, o concreto, a dureza, a firmeza.
Mitologia
Ogun é filho de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxossi. Por este ultimo nutre um enorme sentimento, um amor de irmão verdadeiro e poderoso, capaz de matar e aniquilar quem puser em risco a tranqüilidade de seu mano Oxossi. Há quem diga, até, que Ogun zela mais pelos filhos de Oxossi que pelos seus próprios, tal é o sentimento que ele tem pelo irmão.
Ogum era um caçador, tranqüilo, calmo, pacato. Bom filho, bom irmão, atencioso e trabalhador. Era ele quem provia sua casa e família, pois Exu gostava de viajar pelo mundo. Oxossi, ao contrario, era mais descansado e contemplativo. Como irmão mais velho, então Ogun cuidava da caça, dos concertos, etc. Mas, dentro de seu coração, existia um enorme desejo em “ganha o mundo”, como seu irmão Exu.
Num belo dia, ao voltar de uma exaustiva caçada, Ogun viu sua casa e família ameaçada por guerreiros de terras distantes. Ao ver a casa em chamas e seus entes queridos clamando por socorro, Ogun tomou-se de ira e, sozinho, cheio de ódio, arrasou com os agressores, não deixando um só de pé.
Daí por diante Ogun iniciou Oxossi na arte das caça; mostrou-lhe os caminhos e trilhas da floresta e lhe disse:
- Sempre que estiveres em perigo pense no seu irmão. Onde eu estiver voltarei para defendê-lo.
Aproximou-se de Iemanjá e se despediu:
- Mãe, preciso ir. Preciso vencer e conquistar. Está no meu sangue, essa é a minha vontade.
Desta forma, Ogun partiu e tornou-se o maior guerreiro do mundo. Mesmo sem exercito, vencia todos os exércitos, conquistando tudo aquilo que queria. Ogun se tornou a vitória, a força da conquista.
Esse Orixá, de temperamento explosivo e coração quente, é a força da Natureza talvez mas temida e respeita. Ogun é o gás, a explosão, a guerra, o choque de dois carros, o ferro retorcido, a luta entre os homens e os animais. Ogun é a valentia, a bravura, a coragem, a estocada, a largada, a chegada vitoriosa.
Ogun também é o ciúme, o desabafo, a disputa. Senhor dos metais e incapaz de ser derrotado.
O elemento de Ogun é a terra, e dependendo das qualidades , ou sejam sua fundamentação, carrega também os elementos água e ar.
Quando você sentir seu pulso, seu coração batendo, tenha certeza, Ogun está presente. Quando sentir que seu sangue corre nas veias, pense com convicção. Ogun está presente. Enquanto sentir que existe vida dentro de si, saiba, Ogun a está mantendo e abençoado.
Dados
Dia: terça feira.
Data: 13 de junho
Metal: ferro
Cor: Azul Marinho e Verde
Parte dos corpo: mãos, sangue
Comida: feijoada e inhame
Arquétipos: impetuosos, autoritários, cautelosos, trabalhadores, desconfiado e um pouco egoísta
Símbolos: espada, faca e facão
OXALÁ
Se Exu é o começo de tudo, Oxalá é o fim. Se Exu é o principio da vida, Oxalá é o principio da morte. Equilíbrio positivo do Universo, é o pai da brancura, da paz, da união, da fraternidade entre os povos da Terra e do Cosmo. Pai dos Orixás, é considerado o fim pacífico de todos os seres. Orixá da ventura, da compreensão, da amizade, do entendimento, do fim da confusão.
O branco, nos cultos Afro-Brasileiros, é a cor principal. É, entretanto, o luto, a cor de Oxalá, pois Oxalá é aquele Orixá que vai determinar o fim da vida, o fim da estrada do ser humano. Daí sua cor ser considerada a cor do luto, nos Cultos. Oxalá é ofim da vida, é o momento de partir em paz, com a certeza do dever cumprido.
Embora não gostemos dela, nem que a queiramos com certeza, a morte é uma conseqüência da própria vida. Exu inicia, Oxalá termina. É assim nas rodas de Candomblé, no xirês, quando louvamos todos Orixás. Começamos por Exu, terminamos com Oxalá.
A religião, então, encara o fator morte com a mesma naturalidade com que encara os demais assuntos, pois ele faz parte da Natureza e sabemos que tudo tem um inicio, um meio e um fim. Também o Culto vai encarar esta evidência com lógica e vai determinar uma regência, ou melhor, inúmeras regências, para essa força chamada Oxalá.
A morte é descanso final, e se é o descanso final é a paz. Oxalá é o Orixá da paz. Ele é o pai da brancura, cor do luto no Candomblé. Portanto ele é o pai a morte, ou melhor dizendo, é o principio do fim da vida.
Mas Oxalá também tem outras atribuições na Natureza. É ele que vai proporcionar a paz entre os homens; é ele que vai trazer o entendimento, a compreensão, o sossego, a fraternidade, não somente entre os homens, mas também em sua relação com outras forças da natureza, pois é comum nas Casas de Santo oferecemos comidas e flores, para que Oxalá venha apaziguar uma situação de conflito, uma determinada cabeça. É ele que servirá de mediador para que haja uma solução, uma definição.
Oxalá, portanto, está presente nos momentos em que a calma é estabelecida. Rege a tranqüilidade, o silêncio, a paz do ambiente.
Oxalá é o equilíbrio das coisas, mantendo-as suavemente estabilizado e em posição de espera ou definição, de acordo com o caso, de acordo com a situação.
É, portanto, a organização final, da maneira mais pacífica possível.
Mitologia
Oxalá era marido de Nanã, Senhora do Portal da vida e da morte. Senhora da fronteira de uma dimensão (a nossa) para outras.
Por determinação da própria Nanã, somente os seres femininos tinham o acesso ao Portal, não permitindo a aproximação dela de seres do sexo masculino, sob hipótese alguma. Esta determinação servia para todos, inclusive para o próprio Oxalá.
E assim foi, durante muito tempo. Porém, Oxalá não se conformava em não poder conhecer o Portal, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos Orixás.
Assim, pensou, até que encontrou a melhor forma de burlar as determinações de sua esposa. Não fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o Adê (coroa) com os “chorões”, no rosto, próprio das Iabás (mulheres) e aproximou-se do Portal, satisfazendo, enfim, sua curiosidade.
Foi pego, porém, por Nanã, exatamente no momento em que via o outro lado da dimensão. Nanã aproximou-se e determinou:
-Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo importante, vou compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o principio do fim, aquele que tocará o cajado três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguiras te desfazer das vestes femininas e, daqui para frente, terá todas as oferendas fêmeas!
E Oxalá, conhecido por Olufan, passou a comer não mais como demais santos Aborós (homens), mas sim cabras e galinhas como as Iabás. E jamais se defez das vestes de mulher. Em compensação, transformou-se no Senhor do principio da morte e conheceu todo o seu segredo.
Oxalá, portanto, é o fim. Não o fim trágico, mas pacífico, de tudo que existe no mundo. E por isso merece todo o carinho que lhe damos. Por isso, é o nosso salvador, nosso conselheiro, aquele que vem nos momentos de angustia para trazer algo que esse mundo precisa demasiadamente: Paz.
Mitologia de Oxaguian
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra.
Ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã.
Gostava de guerrear e comer.
Gostava muito de uma mesa farta.
Comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado.
Jamais se sentava estavam sempre atrasados, pois eram muito demorado preparar o inhame.
Elejigbô, o rei do Ejigbô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.
Oxalá então consultou os babalaôs, fez suas oferendas a Exu e trouxe para a humanidade uma nova invenção.
O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pode ser fartar e fazer todas as suas guerras.
Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de “Orixá Comedor de Inhame Pilado”, o mesmo que Oxaguian na língua do lugar.
Dados
Oxalufan
Dia: sexta feira
Data: 15 de janeiro;
Metal: prata, ouro branco, chumbo e níquel;
Cor: branco leitoso;
Partes do corpo: parte genital masculina, rins, sêmen, os 16 dentes do maxilar inferior (cauris) que pertencem a Oxalá.
Comida: ebô, acaçá, o ibi (caracol) e o inhame.
Arquétipo: calmos, mas capazes de liderar, bondosos e tolerantes;
Símbolos: apaasoró (cajado)
Oxaguian
Dia: sexta feira;
Data: 15 de janeiro;
Metal: todos os metais brancos;
Cor: branco e leitoso;
Comida: inhame pilado;
Arquétipo: altos e robustos, porte majestoso, olhar ao mesmo tempo altivo e travesso, elegante e amigo das mulheres, alegre, gosta profundamente da vida, revela-se muitas vezes irônicos, malicioso, prolixo, brincalhão, idealista e defensor dos injustiçados, intuitivo quanto ao futuro. Seu pensamento original antecipa o de sua época, espírito brilhante, facilidade de argumentação. Se rico é generoso e até pródigo. Embora guerreiro não é agressivo, nem brutal.
OXUM
Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, deusa da candura e da meiguice, dona do ouro. Oxum é a Rainha de Ijexá. Orixá da prosperidade, da riqueza, ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe.
Oxum exerce uma ampla influência no comportamento dos seres humanos, regendo principalmente o lado teimoso e manhoso, além daquele espírito maquiavélico que existe em todos nos.
Dizem que “ a vingança é um prato que deve ser servido frio” e a articulação da vingança e seus pormenores tem a influência desta força da Natureza. No bom sentido, Oxum é o “veneno” das palavras, é o comportamento piegas das pessoas, é a forma “metida”, esnobe, apresentada, principalmente pelo sexo feminino. Oxum é o cochicho, o segredinho, a fofoca. Geralmente está presente quando um grupo de mulheres se reúne. É o seu habitat, pois está encantada nas conversas, nos risinhos, nos comentários, nas intriguinhas.
Oxum rege o charme, o it, a pose. Tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Oxum. Esta força é que desenvolve tais sentimentos e comportamentos nos indivíduos, sendo o sexo feminino o mais influenciado.
Oxum também é o flerte, o namoro, a paquera, o carinho. É o amor, puro, real, maduro, solidificado, sensível. Oxum não chega a ser a paixão. Esta é Iansã . Oxum é o amor, aquele verdadeiro. Ela propicia e alimenta este sentimento nos homens, fazendo-os ser mais calmos e românticos.
Realmente, Oxum é a Deusa do Amor. Sua força está presente no dia-a-dia, pois que não ama de verdade? Embora o mundo de hoje esteja tumultuado demais, ainda existe espaço no coração do homens para o amor. Ele ainda existe, e Oxum é quem gera este sentimentos mágico. Aliais, Oxum está muito intimamente ligada à magia. É sabido pelo povo do candomblé que o filhos de Oxum são muito chegados ao feitiço. E isso tem explicação: Oxum é a divindade africana mais ligada às Yámi Oxorongá, feiticeiras, bruxas. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Oxum são tão poderosos nesta arte.
Mas a magia está presente em quase tudo que fazemos, principalmente no que se refere ao coração, ao sentimento. Oxum é o encanto desses momentos, sua presença se dá nessas horas.
Oxum é os sentimentos doces, equilibrados, maduros, sinceros, honestos. É o sentimento definitivo, aquele que dura a toda a vida. Oxum é a paz no coração, é o saber que “amo e sou amado”.
Mas ele se encanta também na manha, no denguinho feminino, na vontade de ter algo, apenas por ter. Ela é o mimo, a menininha mal acostumada. É a sensualidade do “biquinho” feminino, quando quer uma coisa. É o charme!
Oxum também é a água doce, o olho d’água, onde encanta seu filho Logun-Éde. É a cachoeira, o rio, que também tem a regência de seu filho. É a queda da água da cascata.
Regente do ouro, ela está presente e se encanta em joalherias e outros lugares onde se trabalha com ouro, seu metal predileto e de regência absoluta. É a protetora dos ourives. Oxum é o próprio outro, e está presente em todas as peças e jóias feitas com este metal.
Entretanto, a regência mais fascinante de Oxum é a fecundação, melhor, o processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre – Exu entrega a regência para Oxum, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Oxum que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia na barriga da mãe. É Oxum que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas. É sem duvida alguma, uma das regências mais fascinantes, pois é o inicio, a formação da vida. E Oxum “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entregará para Yiá Ori (Iemanjá), que dará destino àquela criança.
Como disse antes, Oxum é uma força da Natureza muito presente em nossas vidas, já que todos nós fomos gerados no útero materno; todos nós convivemos, ainda na barriga da mãe, com Oxum e, num breve sentimento de carinho e amor, estaremos desenvolvendo esta força dentro de nós. Oxum é o amor e a capacidade de sentir amor. E se amamos algo ou alguém é porque ela está viva dentro de nós.
Mitologia
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi uma moça muito curiosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o deus da brancura. Sempre que Oxalá queria saber de algo, consultava Ifá. O Senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
- Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. Isto intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
- Oxum, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Isto não pode lhe dar!
Curiosa Oxum procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Exu respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
Exu estava intransigente. Oxum sabia disso e sabia que não conseguiria não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Yámi Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Yámi, empoleiradas nas árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Yámi, há muito querendo “pegar Exu pelo pé”, resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que, sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Oxum concordou e partiu.
Em seu reino, Oxalá já se preocupava com a demora da filha que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar-se com este, Oxum insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Exu?
- Não e não! Foi sua resposta.
Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou o olhar. Oxum, num movimento rápido, abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando-o temporariamente cego.
- Ai! Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
- Eu os procuro, quantos búzios, formam o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16, Exu? E por que seriam 16?
- Ora, ora, porque 16 são os Odus e cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
- Ah! Sei. Olha, Exu, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Exu,. Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá....
E assim foi , até chegar ao ultimo Odu, Inteligente, oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Exu com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que essa garota me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurara as Yámi, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de Exu o segredo do Jogo de Búzios. Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Exu.
Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha. Meiga, Oxum respondeu ao pai:
- Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!
“Ora Yê Yê, amor.... Ora Yê Yê, Oxum...
Dados
Dia: Sábado;
Data: 8 de dezembro;
Metal: latão e ouro, o bronze e o cobre;
Cor: amarelo;
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço; às vezes o coração; patrona do ventre; a terceira visão e a circulação sanguínea (os rios);
Comida: omoolocum e banana fritas;
Arquétipos: calmos, carinhosos, desprendidos, vaidosos, volúveis, altruístas, sonhadores, muito elegantes apaixonados, por jóias, perfumes e vestimentas caras; símbolo do charme e beleza, sensuais, porém reservados, evitam chocar a opinião publicar à qual dão grande importância; sob sua aparência calma e sedutora, escondem uma vontade muito forte, um grande desejo de ascensão social.
Símbolo: abebê
TEMPO
Quatro é o número da Terra; quatro foram os dias que Olorum levou para criar o mundo; a cada dia, Olorum criou quatro Odus – num total de 16; quatro são as estações do ano: verão, inverno, outono e primavera; quatro são os elementais da natureza: fogo, água, terra e ar. Ligado a este numero quatro, está o Orixá Tempo – de origem Angola e Congo – semelhante ao Iroko, da Nação Ketu e a Loko, de Nação Jeje.
Tempo é o senhor das estações do ano; regente das mutações climáticas. Pai da maionga, o banho da Nação Angola.
Tempo está sempre em movimento, entre uma e outra extremidade dos pólos. Ora está em Exu – equilíbrio negativo do Universo – oras está em Oxalá – equilíbrio positivo do Universo – ora intermediário entre um e outro pólo. Tempo é equilíbrio e desequilíbrio, ao mesmo tempo. Ele é o segundo, o minuto, a hora.
Nas casa de Angola, Tempo é reverenciado com o Pai da Maionga, do banho, que vai purificar o corpo dos seguidores e iniciados no culto, no momento de maior energia, e vibração deste Inkice (Orixá). Momento, também, de maior purificação, feita através do banho com ervas, água do mar, de cachoeira, de rio, de mina e de chuva, etc.
Tempo está ligado ao meio ambiente, pois qualquer choque ambiental tem a sua regência. Ligado intimamente aos quatros elementais da Natureza, Tempo viaja por todos eles, num movimento constante, alterando infinitamente o tempo. Sem esse movimento, viveríamos o mesmo segundo sempre, melhor, “sempre” não existiria. Com o tempo parado, não poderia existir vida de nenhuma espécie. A este Orixá, também chamado de Kitêmbo, foi designado e controle do ambiente, a passagem dos segundo, minutos e horas, dando sentindo aos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios. Ele é o próprio nome: Tempo.
Tempo (Kitêmbo) rege as estações do ano, como já disse. Ele é o responsável pela passagem de um a para outra. Está ligado ao frio, ao calor, à seca, às tempestades, ao ambiente pesado e ao ambiente agradável;
Tempo é o outono: período de mudança das plantas, dos ventos fortes, do clima meio nublado, sem beleza, mas de fundamental importância para o surgimento de um novo ciclo de vida.
Tempo é inverno: período de frio, chuvas permanentes, ambiente gelado e úmido.
Tempo é verão: período de forte calor, de sol escaldante, de seca, de estiagem.
Tempo é primavera: período da beleza das plantas, do nascimento e do desabrochar das flores, do clima agradável, do frio gostoso e do sol morno, sadio; período em que a Natureza é mais colorida e talvez mais bela de ser ver.
Tempo é o passeio por todas essas estações. Ele se encanta na mudança brusca de clima, do popular: “ sol e chuva, casamento de viúva”. Tempo é a mudança radical e a mudança proporcional do clima.
Kitêmbo é a escala do tempo, por isso sua ferramenta é uma escada, em referencia ao crescimento do tempo em nossa volta. É a energia em constante deslocamento nos quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. Viaja pelos quatro, constantemente, sem parar. E nem poderia!
Mitologia
Os Angolas e os Congos, que cultuam os antepassados, contam uma historia sobre esse Inkice (Orixá). Relatam que ele era um homem muito agitado, que resolvia varias coisas ao mesmo tempo e que realiza varias tarefas de uma só vez.
Reclamava, entretanto, que o dia era muito pequeno e que não conseguia realizar tudo aquilo que desejava, nos prazos estabelecidos por ele mesmo. Reclamava demais. Cobrava de Zambi (Oxalá nas nações Angola e Congo) ter nascido lento e incapaz de realizar tudo o que pretendia, mesmo que, na realidade, fosse um homem forte, veloz, astuto e competente. Mesmo assim, não se considerava capacitado para realizar seus objetivos e acusava Zambi de ter feito o dia muito pequeno.
Um dia, Zambi lhe disse:
- Você e muito afoito. Parece que errei em sua criação, pois você não se conforma com o eu feito.
E ele retrucou a Zambi:
- Não tenho culpa se o Senhor, Pai, fez o dia tão pequeno. As horas são tão miúdas que não dá tempo para realizar tudo aquilo que planejo!
E Zambi, aborrecido, mas admirado pela coragem do seu filho, determinou então:
- Já que você considera que o tempo é pequeno, passará,então,a controlá-lo e administrando o verão, o inverno, o outono e a primavera. Andará, então, pelo fogo, pela água, pela terra e pelo ar. Não terá, mas problemas de tempo. Será, então conhecido com Tempo e regerá os movimentos da Natureza.
E, na terra, o povo clama o seu Inkice entoando a cantiga:
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para trabalhar...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para comer...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para beber...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para viver...”
Poderia eu falar mais desta maravilhosa e tão importante força da Natureza mas, no momento, falta-me tempo!
XANGÔ
Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro deus iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras. É, portanto, o principal tronco dos candomblés do Brasil.
Xangô é o rei das pedreiras, Senhor dos coriscos e do trovão, Pai de justiça e o Orixá da política. Guerreiro, bravo e conquistador, Xangô também é conhecido como o Orixá mais vaidoso, entre os deuses masculinos africanos. É monarca por natureza e chamado pelo termo Oba, que significa rei. E é o Orixá que reina em Oyó, na Nigéria, antiga capital política daquele país.
No dia a dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos. Encontramos Xangô nas lideranças de sindicatos, associações, movimentos políticos, nos partidos políticos, nas campanhas políticas, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. Xangô é a rigidez, a organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso cultural e social, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer.
Xangô é a capacidade de organizar e pôr em prática os projetos de diferentes áreas, é a reunião de pessoas, para discutirem pontos e estratégias de trabalho. Xangô também é o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança.
Ele está presente nos trabalhos de jornalistas, escritores, advogados, juízes, promotores, delegados, investigadores, deputados, senadores, vereadores, sindicalistas, líderes comunitários, administradores, etc. É o líder, o monarca, o reformador.
Xangô também é representado pela pedreira. É a pedra – seja ela qual for – a rocha, o fogo interior da terra. É a lava do vulcão e é o próprio vulcão. Está presente em todos os lugares rochosos e arenosos e também muito ligado ao calor do sol. É o justiceiro da Natureza, aquele que manda castigar e que também castiga.
Xangô está presente em muitos momentos importantes de nossas vidas, como, por exemplo: na assinatura de contratos e distratos, nos telegramas, nas leis e decretos, na confecção de códigos, livros, almanaques, dicionários, nas decisões judiciais, na voz da prisão, na autoridade do professor, do policial, do juiz, do pai ou da mãe, tio, avô, irmão mais velho ou responsável. Xangô é a atitude digna, a fortaleza, a decisão final.
Saudamos Xangô no ribombar dos trovões, pois ali está sua voz. Sentimos sua presença nos raios e nos grandes incêndios, situações que, por sinal, são também regidas por Iansã.
Xangô rege a bravura, o senso justo e todo elemento rochoso do mundo.
Mitologia
Filho de Bayani e marido de Iansã, Obá e Oxum, Xangô nasceu para reinar, para ser monarca e, como Ogum, para conquistar e solidificar, cada vez mais, sua condição de rei.
Uma das lendas que mostra bem o senso de justiça de Xangô, é aquela conta a história de uma conquista, feita pelo deus do trovão.Xangô, acompanhado de numeroso exército, viu-se frente à frente com o exército inimigo. Seus opositores tinham ordens de não fazer prisioneiros, destruir o inimigo, desde o mais simples guerreiro até os ministros e o próprio Xangô. E, ao longo da guerra, foi exatamente o que aconteceu. Aqueles que caíam prisioneiros dos exércitos inimigos de Xangô eram executados sumariamente, sem dó ou piedade, sendo os corpos mutilados devolvidos para que Xangô visse o suposto poder de seu inimigo.
Batalhas foram travadas nas matas, nas encostas dos morros, nos descampados. Xangô perdeu muitos homens, sofreu grandes baixas, pois seus inimigos eram impiedosos e bárbaros.
Do alto da pedreira, Xangô meditava, elaborava planos para derrotar seu inimigo, quando viu corpos de seus fiéis guerreiros serem jogados ao pé da montanha, mutilados, com os olhos arrancados e alguns com a cabeça decepada.
Isto provocou a ira de Xangô que, num movimento rápido e forte chocou seu machado contra pedra, provocando faíscas tão fortes que pareciam coriscos. E quanto mais forte batia mais os coriscos ganhavam força e atingiam seu inimigo.
Tantas foram as vezes que Xangô bateu seu machado na rocha, tantos foram os inimigos vencidos. Xangô triunfara, saíra vencedor. A força de seu machado de emudeceu e acovardou inimigo.
Com os inimigos aprisionados, os ministros de Xangô clamaram por justiça, pedindo a destruição total dos opositores. Um deles lembrou Xangô:
- Vamos liquidá-los a todos. Eles foram impiedosos com nossos guerreiros!
- Não! – enfatizou Xangô – meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça! Os guerreiros cumpriam ordens, foram fiéis aos seus superiores e não merecem ser destruídos. Mas, os líderes sim, estes sofrerão a ira de Xangô.
E, levantando seu machado em direção ao céu, Xangô gerou uma seqüência de raios, destruindo os chefes inimigos e liberando os guerreiros, que logo passaram a servi-lo com lealdade e fidelidade.
Assim, Xangô mostrou que a justiça está acima de tudo e que, sem ela, nenhuma conquista vale a pena, e o respeito pelo rei é mais importantes que o medo.
Esse é Xangô que, apesar de ser grande guerreiro, justo e conquistador, detesta a doença, a morte e aquilo que já morreu. Xangô é avesso a eguns (espíritos desencarnados). Admite-se que ele é numa espécie de ímã de eguns, daí sua aversão a eles.
Xangô costuma entregar a cabeça de seus filhos a Obaluaê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.
O elemento fundamental de Xangô é o fogo.
Dados
Dia: quarta-feira;
Data: 29 de junho;
Metal: cobre, ouro e chumbo;
Cor: Vermelho e branco ou branco e marrom;
Partes do corpo: plexo solar, coração e as coronárias;
Comida: amalá (quiabo cortado) com rabada;
Arquétipo: sensuais e até agressivos, voluntariosos, qualidade de chefia e ansiosos pela posição de comando.
Símbolos: oses (machados), edun ará (pedra de raio), seré.
EXÚ
A palavra “Exu” significa, em ioruba, “esfera”, aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é o principio de tudo, a força da criação, o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula mater da geração da vida, o que gera o infinito, infinita vezes.
É considerado o primeiro, o primogênito; responsável e grande mestre dos caminhos; o que permite a passagem o inicio de tudo. Exu é a força natural viva que formenta o crescimento. É o primeiro passo em tudo. É o gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir.
Exu está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos que carregam, em seu plexo, o elemento dinâmico denominado Exu.
É aquilo que no candomblé chamamos de Bára, ou seja “no corpo”, preso a ele. É o que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem o elemento Bára, a vida sadia é impossível. Sem ele, o homem seria excepcional, retardado, impossível de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de vida..
Realmente, Exu está presente em tudo. E damos como exemplo inicial a concepção da geração da vida. O membro ereto do macho tem a presença de Exu- aliás, em terras da África, o membro rijo é o símbolo da vida, o símbolo de Exu - ; a penetração na fêmea, tema a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozóide dentro da fêmea, é regido por Exu; também na fecundação do óvulo Exu está presente. E quando a primeira célula da vida esta formada, a presença de Exu se faz necessária. Já na multiplicação da célula, a regência passa por Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.
Exu também está presente no calor, no fogo, na quentura. Presente se faz nos lugares poucos arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios.
Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo. Está presente no medo, no pavor, na falta de controle do ser humano. Também está perto na gargalhada, no riso farto, na alegria incontida. Para nós brasileiros, amantes do futebol, Exu está presente no grito de “gol”, que soltamos de forma feliz e nervosa. É o desprendimento do nervosismo contido no peito.
Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de idéias que temos. É a invenção, descoberta. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreadas e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos ba´sico. Aquele que ludibria, engana, e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz dor e a felicidade.
Para se ter uma noção do comportamento e da regência paradoxal de Exu, cito um de seus Orikis (versos sarados), que diz;
“ Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que jogou hoje”
Assim, pode-se ter uma idéia exata de quem Exu é, como é, e como rege as coisas. Ele esta presente em tudo..... em nada.
Exu esta presente no consumo de substâncias tóxicas, no álcool, na droga, no fumo. Ele é o sólido, o liquido e o gasoso. Está nas conversas de esquinas, de bares, de restaurantes, de praças. Está na aceitação ou recusa de qualquer coisa.
Está presente também nas refeições, pois ele é quem rege o ato de mastigar e engolir. A gula é atributo de Exu. Está no coito, no prazer sexual, na preguiça; mas também está presente na disposição, na energia, sem querer com isso carregar peso, pois Exu não gosta de carregar peso. Outro Oriki fala claramente sobre esta sua particularidade:
“ Xonxô obé, odara kolori erú”
“ A lâmina (sobre a cabeça) é afiada; ele não tem cabeça para carregar fardos”
Exu é tudo isso e mais. Fogo é o seu elemento, mas a Terra e o Ar são bem conhecidos de Exu. É a presença constante!
Mitologia
Exu é filho de Iemanjá e irmão de Ogun e Oxossi. Dos três é o mais agitado, capcioso, inteligente, inventivo, preguiçoso e alegre.É aquele que inventa historias, cria casos e o que tentou violar a própria mãe.
Numa de suas muitas histórias, podemos entender exatamente suas capacidade inventiva, sua conduta maquiavélica e sua maneira pratica de resolver seus assuntos e saciar seus desejos.
Conta-se que dois grandes amigos tinham, cada um deles,um pedaço de terra, dividido por uma cerca. Diariamente os dois iam trabalhar, capinando e revirando a terra, para plantio.Exu, interessado nas terras, fez a proposta para adquiri-las, o que foi negado pelos agricultores. Aborrecido, mas determinado a possuir aqueles dois terrenos, Exu procurou agir. Colocou na cerca um boné. De um lado branco, de outro vermelho. Naquela manhã, os amigos lavradores chegaram cedo para trabalhar a terra e viram o boné na cerca. Um deles via o lado branco e outro o lado vermelho.
Em dado momento, um dos amigos pergunto: - “O que este boné branco faz em minha cerca?” Ao que o outro retrucou: - “Branco? Mas, o boné é vermelho!”
- Não, não, amigo. O boné é branco, como algodão!
- Não, não é mesmo! É vermelho como o sangue!
- Não sei como você pode ver vermelho, se é branco, está louco?
- Não, o louco é você, que vê branco, se a coisa é vermelha!
Bem, daí desencadeou-se a maior discussão, até chegarem à luta corporal. E com as mesmas ferramentas de trabalho, mataram-se.
Exu, que de longe assistiu a tudo, esperando o desfecho já imaginado por ele, aproximou-se e assumiu a posse das terras, não sem antes fazer um comentário, bem ao seu estilo:
- Mas que gentes confusas, que não consegue solucionar problemas tão simples!
Esse é o tipo de Exu!
Não quero passar a impressão de que se trata de uma coisa ruim, má, mas Exu é nosso próprio interior, é a nossa intimidade, o nosso poder de ser bom ou mau, de acordo, com nossa própria vontade. Exu é o ponto mais obscuro do ser humano e é, ao mesmo tempo, aquilo que existe de mais óbvio e claro.
Assim é Exu, Senhor dos caminhos, pai da verdade e da mentira. O Deus da contradição, do calor, das estradas, do princípio ativo de vida. O mestre de tudo... e nada!
Dados
Dia: Segunda Feira
Data: Não existe especificamente, pois todos os dias são de Exu.
Metal: Não tem, sua matéria é a terra, pois nasceu da terra em forma de pênis.
Cor: Preto e Vermelho
Partes do Corpo: Sensações de sede e de fome, cavidade do Ori (cabeça), cavidade do útero, atividade sexual (não da atividade procriadora, da fecundação, pois ele é o resultado, o descendente), placenta fecundada, os pés (bola dos pés), uma parte do fígado (a outra é de Oya).
Comida: Sangue de bode, galos, galinhas, farofa de azeite de dendê, carnes mal passadas, pimenta e bebidas alcoólicas.
Arquétipos: magros, altos, sorridentes, extrovertidos demais, alegres, ambiciosos, com fé na vida, esperançosos para melhorar, positivo.
Símbolos: Ogo (bastão cheio de tranças de palha numa ponta com cabaças dependuradas, nas quais ele traz suas bebidas. O Ogo é todo enfeitado de búzios).
IEMANJÁ
A majestade dos mares. Senhora dos oceanos, sereia sagrada, Iemanjá é a Rainha das águas salgadas, considerada como mãe de todos Orixás, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também como a Deusa das Pérolas, Iemanjá é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento do nascimento.
Essa força da natureza também tem um papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que vai reger nossos lares, nossas casas. É Iemanjá que vai dar o sentido de “família” a um grupo de pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos, transformando-os num grupo coeso.
Iemanjá é o sentindo de educação que damos aos nossos filhos, os mesmos que recebemos de nossos pais, que aprenderam com nossos avós. Ela, Iemanjá, rege até o castigo, as sanções que aplicamos aos filhos. É o sentido básico, é a base da formação de uma família, aquela que vai gerar o amor do pai pelo filho, da mãe pelo filho, dos filhos pelos pais, transformando tais sentimentos num só, poderoso, imbatível, que se perpetuará.
Iemanjá é a família! Rege as reuniões de família, os aniversários, as festas de casamento, as comemorações que se fazem dentro da família. É o sentido da união, seja ligado, por laços consangüíneos, ou não.
Dentro do culto, numa casa de santo, Iemanjá também atua organizando e dando sentindo ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependências; proporcionando o sentimento de irmão pra irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho, ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos do relacionamento do Babalorixás, ou Ialorixás como os Omo Orixás (filhos de Santo).
Iemanjá também está presente nas decisões, nos momentos de angústia e preocupação pelo ente querido, pois seus sentimentos geram os nossos, A necessidade de saber se aqueles que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Iemanjá, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente, ou amigo muito querido. E estendemos isso, também, às comunidades da Religião.
Iemanjá é a preocupação e o desejo de ver aquilo que amamos a salvo, sem problemas. É a manutenção da harmonia do lar.
Está presente também no nascimento, pois é ela quem vai aparar a cabeça do bebê, exatamente no momento do seu nascimento. Se Exu fecunda e Oxum cuida da gestação, é Iemanjá quem vai receber aquela nova vida no mundo e entregá-la ao seu regente, que inclusive pode ser até ela mesma. Isto tem uma importância muito grande, no sentido e na visão da Cultura Africana, sobre a fecundação e concepção da vida humana. Iemanjá é a senhora dos lares, pois, desde o nascimento, ou a partir do nascimento, ela cuidará da família.
Daí o titulo de Iyá (mãe), melhor, Iyá – Ori (mãe da cabeça) e plasmadora de todas as cabeças; aquela que gera o Ori, que dá o sentido da vida e nos permite pensar, raciocinar, viver normalmente como seres pensantes e inteligentes.
Iemanjá está presente nos mares e oceanos. É a Senhora das águas salgadas e será ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo de seu reino. Iemanjá é a onda do mar, o maremoto, a praia em ressaca, a marola, É ela quem controla as marés, é ela quem protege a vida no mar.
Mitologia
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu “caiu no mundo”, sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Dados
Dia: sábado;
Data: 2 de fevereiro;
Metal: prata e prateados;
Cor: branco transparente;
Partes do corpo: cabeça (inconsciente e equilibro mental), cérebro (comanda o corpo);
Comida: epo de milho branco, manjar branco com leite de coco e açúcar, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, mamão.
Arquétipo: voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Têm sentido de hierarquia, fazem-se respeitar, são justos e formais. Põem à prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se perdoam, não esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Tem tendência a vida suntuosa, mesmo se as possibilidades não lhes permitem tal falso.
Símbolo: abebê branco.
NANÃ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nanã. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nanã é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todas os Orixás. A mais respeitada. A mais velha, poderosa e seria. Nanã é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nanã é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nanã também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Nanã é lama, é terra com contato com a água. Nanã também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nanã, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muita vezes estraga passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nanã, está insatisfeita. E, amigo... queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nanã. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iabá (orixá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nanã é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nanã é o Orixá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Mitologia
Nanã, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Obaluaê, Ossãe, Oxumarê e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nanã sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ogum numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, ogum aproximou-se das terras de Nanã. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã pois, para Ogum, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nanã com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ogum avançou pela pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nanã. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nanã.
Dados
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Aberem(milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis, maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artísticos;
Símbolo: ibiri e os bradjas ( contas feitas com búzios, dois a dois, e cruzados nos peitos, indicando ascendente e descendente)
OBALUAÊ / OMULU
Obaluaê é uma flexão dos termos: Oba (rei) – Oluwô (senhor) – Ayiê (terra), ou seja, “Rei, senhor da Terra”. Omulu também é uma flexão dos termos: Omo (filho) – Oluwô (senhor), que quer dizer “ Filho e Senhor”. Obaluaê, o mais moço, é o guerreiro, caçador, lutador. Omulu o mais velho, é o sábio, o feiticeiro, guardião. Porém, ambos têm a mesma regência e influência. No cotidiano significam a mesma coisa, têm a mesma ligação e são considerados a mesa força da natureza.
Obaluaê (ou Omulu) é o Sol, a quentura e o calor do astro rei. É o Senhor das pestes, das moléstias contagiosas, ou não. É o rei da Terra, do interior da Terra, e é o Orixá que cobre o rosto com o Filá (de palha – da - Costa), porque para os humanos é proibido ver seu rosto, pela deformação feita pela doença, e pelo respeito que devemos a este poderosíssimo Orixá.
Obaluaê está no organismo, no funcionamento do organismo. Na dor que sentimos pelo mal funcionamento dos órgãos, ou por uma queda, corte ou queimadura.
Obaluaê rege a saúde, os órgãos e o funcionamento destes. A ele devemos nossa saúde e é comum, nas Casas de Santos, se realizar os Eboris de Saúde, que fazem pra trazer saúde para o corpo doente.
O órgão central da regência de Obaluaê é a bexiga, mas está ligado a todos os outros. Ele trata do interior, fundamentalmente, mas cuida também da pele e de suas moléstias.
Divide com Iansã a regência dos cemitérios, pois ele é o Orixá que vem como emissário de Oxalá (princípio ativo da morte), para buscar o espírito desencarnado. É Obaluaê (ou Omulu) que vai mostrar o caminho, servir de guia para aquela alma.
Obaluaê também é o Senhor da Terra e das camadas de seu interior, para onde vamos todos nós. Daí a ligação que tem com os mortos, pois ele é quem vai cuidar do corpo sem vida, e guiar o espírito que deixou aquele corpo. É por isso que Obaluaê e Omulu gostam de coisas passadas, apodrecidas.
O sol também tem a sua regência. Ele também é o Calor provocado pelo sol quente. Há quem diga que não se deve sair à rua quando o Sol está quente sem a proteção de um patuá, a fim de não correr o riscos e não sofrer a ira de Obaluaê, geralmente fatal.
Obaluaê está presente em nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Está presente quando sentimos coceira e comichões na pele.Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aqueles que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes.
Está presente nos hospitais, casa de saúde, ambulatórios, postos de saúde, clínicas, sempre próximo aos leitos. Rege os mutilados, aleijados, enfermos. Ele proporciona a doença mas, principalmente, a cura, a saúde. É o Orixá da misericórdia.
Obaluaê é à força da Natureza que rege o incômodo de um modo geral. Rege o mal estar, o enjôo, o mal humor, a intranqüilidade. É o Orixá do abafamento e está presente nele, bem como na má digestão e na congestão estomacal. Gera o ácido úrico e seus efeitos.
Obaluaê está presente em todas as enfermidades e sua invocação, nessas horas, pode significar a cura, a recuperação da saúde.
Mitologia
Filho de Nanã – que abandou por ser doente – foi criado por Iemanjá. É o irmão mais velho de Ossãe, Oxumarê e Ewá; Orixá fundamentalmente Jeje, mas louvado em todas as nações, por sua importância.
Conta-se que, uma vez esquecido por Nanã, fora criado por Iemanjá, que curou das moléstias. Cresceu forte, desenvolveu a arte da caça, tornando-se guerreiro e viajante.
Certo dia, numa de suas jornadas, chegou até uma aldeia, coberto de palha, como sempre viveu. Como todos conheciam sua fama, suas ligações com as moléstias contagiosas, foram barradas antes mesmo de penetrar na aldeia.
-Não o queremos aqui! - disse o dirigente da tribo.
- Mas quero apenas água e um pouco de comida, para prosseguir minha viagem. Apenas isso! – respondeu Obaluaê, ou melhor, dizendo Xapanã, nome pelo qual era chamado.
- Vá-se embora, Xapanã! Não precisamos de doença, nem de mazelas em nossa aldeia. Vá procurar água e comida em outro lugar!
E Xapanã, então foi sentar-se no alto do morro próximo. A manhã mal começara e ele ficou, sentado, envolto em palha da costa, observando a subida do sol.
O tempo foi passando, as horas foram-se passando e, ao meio-dia, exatamente, o Sol já escaldante, tornou-se insuportável. A água ficara quente, o alimento se estragava e toda a tribo se contorcia de dor, aflição e agonia. Xapanã a tudo observava, imóvel, como um totem, como um símbolo de palha.
Na aldeia um alvoroço se fez. Uns tinham dores na barriga, outros tinham forte dores de cabeça. Outros, ainda, arrancavam sangue da própria pele, numa coceira incontrolável. Outros agiam como loucos incontrolados. Aos poucos, a morte foi chegando para alguns.
Xapanã apenas assistia...
Parecia que o tempo havia parado ao meio-dia, mas, na verdade, foram três dias de sol quente, pois a noite não chegava. Era apenas sol durante todo o tempo. E durante todo o tempo a aldeia viu-se às voltas com doenças, loucura, sede, fome, morte!
Xapanã, inerte, via tudo, imóvel...
Não agüentando mais, e vendo que Xapanã continuava do alto do pequeno morro observando, o dirigente de aldeia foi até ele suplicar perdão, atirando-se aos seus pés.
- Em nome de Olorun, perdoe-nos! Já não suportamos tanto sofrimento! Tente perdoar, por favor, Senhor Xapanã! Tente perdoar!
De súbito, Xapanã levantou-se, desceu até a aldeia e pisou na terra. Tornou-a fria. Tocou na água, tornou-a também fria; tocou os alimentos e tornou-os novamente comestível; tocou a cabeça de cada um dos aldeões e curou-lhes a doença; tocou os mortos e fez voltar a vida em seus corpos.
Restaurada a normalidade, Xapanã pediu mais uma vez:
-Quero um pouco de água e alguma comida para prosseguir viagem.
Num instante foi-lhe servido o que de melhor havia em toda a aldeia. Deram-lhe, vinhos de palmeira, frutas, carne, legumes, cereais, enfim, o que tinham de melhor.
Voltando-se para os aldeãos, Xapanã deu-lhes uma lição de vida.
-Vivemos num só mundo. Sobre a mesma terra, debaixo do mesmo sol. Somos todos irmãos e devemos ajudar uns aos outros, para que a vida seja mantida. Dar água a quem tem sede, comida a quem tem fome é ajudar a manter a vida.
Voltou-se e partiu. Atrás dele o povo da aldeia gritava:
-Xapanã, Rei e Senhor da Terra! Xapanã, Obaluaê! Xapanã, Obaluaê! Xapanã, Obaluaê!
Obaluaê que sua benção e proteção nos seja dada sempre!.
Dados
Dia: segunda feira
Data: 13 ou 16 de agosto;
Metal: chumbo;
Cor: preto e branco e ou preto, branco e vermelho;
Partes do corpo: a pele e os pulmões;
Comida: deburú (pipoca), abadô (amendoim pilado e torrado), Iatipá (folha de mostarda) e ibêrem (bolo de milho envolvido na folha de bananeira);
Arquétipo: sóbrios, reservados, generosidade destacada, geniosos, independentes, teimosos, tendência ao masoquismo.
Símbolos: xaxará ou íleo (com que limpa as doenças e os males espirituais)
OSSÃE
O deus das ervas, dono das matas, orixá da medicina, da cura, da convalescença. Mestre do poder curativo das ervas, que proporciona o Axé das plantas , ou seja, a força vital, imprescindível à realização de qualquer ritual nos cultos africanos.
Ossãe é a mágica das folhas, tornando mágica, também, sua convivência com os seres humanos.
Nos dias em que o homem agride a natureza, derrubando árvores, fazendo queimadas, numa atitude covarde e insensata, Ossãe se levanta como defensor, pois ele é a própria Ecologia. Ossãe é a folha,; a árvore; o vegetal; a mata; a floresta, a qual quanto mais densa, mas faz notar sua presença.
Ossãe, de um bilhão de formas, tamanhos, cheiros e essências. O segredo do poder de curar pela planta está com ele, é proporcionado por ele.
Nos rituais do Candomblé o banho de ervas – Abo – é vital, imprescindível. Tudo é passa no Abô. Desde louças, travessa de barro, moedas, pulseiras, búzios, quartinhas, facas, colheres de pau, gamelas, até o próprio home, que vai se banhar e se purificar pelas ervas. O Abô é algo que não pode faltar nos rituais, que vai dar o encanto, vai possibilitar a presença da força cósmica do Orixá. Mesmo nos sacrifícios animais, canta-se para Ossãe – mesmo que o sacrifício não seja para ele – pois dele dependerá o encantamento daquele ato sagrado. É Ossãe que trará a calma, a paz, o encanto, para que o ritual transcorra bem.
Realmente, Ossãe é o encanto, a magia. E é por isso que quando se vai à mata buscar ervas leva-se fumo de rolo, mel e moedas, para dar o Senhor das matas e facilitar a busca da erva desejada, pois Ossãe pode escondê-la de nôs, criar uma ilusão de ótica e não permitir que a vejamos, mesmo que esteja à nossa frente, debaixo de nosso olhos.
Ossãe está presente nos momentos importantes da vida. Na salvação de uma vida, através da medicina; nos consultórios. Afinal, Ossãe é o alquimista, o químico, o farmacêuticos, o Senhor das poções mágicas e curativas. É o feiticeiro, o bruxo, o medico dos Orixás, conhecedor profundo do segredo de todas as ervas.
É o pai da homeopatia; aquele que gera a capacidade de cura, pela ingestão ou aplicação de plantas medicinais. E está presente, também, no cotidiano, pois estamos sempre muito próximos do mundo vegetal. É por isso que não devemos arrancar folhas sem motivos justos; derrubar árvores ou fazer queimada, pois estaremos violando a natureza, ofendendo seriamente esta poderosa força natura que denominamos Ossãe.
Sentimos ainda mais sua presença quando estamos num horto, em meio às ervas. Ossãe é a mágica da folha, a sombra que nos proporciona paz, tranqüilidade e harmonia.
Mitologia
Ossãe e filho de Nana, irmão de Obaluaê, Oxumarê e Ewá. Sempre foi muito circunspeto, introvertido, pensativo. Ainda jovem, partiu para floresta – que sempre o atraiu – e lá estudo as plantas, as árvores e aprendeu o segredo das ervas, cuidando dos animais feridos e fazendo experiências.
Deteve, assim, o domínio do poder das ervas. E sempre que algum outro Orixá precisava de uma planta, de uma erva, devia, em primeiro lugar, pedir autorização a Ossãe, e o senhor do verde.
Xangô, Reio de Oyó, achando que todos deveriam ter o conhecimento das ervas, pediu à Iansã, Senhora dos ventos, que convencesse Ossãe a dividir com os demais Orixás os mistérios e os segredos do uso da planta. Ela, por sua vez partiu para a floresta, sacudiu sua saia e fez gerar uma forte ventania, espalhando as folhas por todo o reino de Oyó e outro como Ketu, Ifé, Oxogbô, Abeokutá, Numpé, etc.
Ossãe assitia a tudo de forma impassível. Via suas folhas indo em direção a todos os reinos, sem dizer uma palavra. No fundo, o alquimista sabia que estava dividindo as plantas, as espécies e nada podiam fazer diante de tão forte ventania.
Vitoriosa, Iansã voltou ao reino de Xangô, certa do dever cumprido. Na floresta, Ossãe lamentava o vento que espalhara suas folhas mas, intimamente, sorria de forma irônica e comentou consigo mesmo:
- De que adianta as folhas, sem o segredo? De que adianta possuir a erva, sem o mistério? De que adianta possuir o ingrediente mágico, sem o poder de gera a magia?
Assim, Ossãe continou como o mestre das ervas. Embora os outros Orixás também tenha suas folhas, ficou com Ossãe o segredo e a forma de encantá-la. De nada adiantou terem as folhas, se não sabiam usá-la ou aplicá-las. Para isso, continuaram a depender de Ossãe que, sabendo perdoar, continuou a curar, a dar receitas para gerar o encantamento, pois nada podia ser feito sem as ervas. Nenhum ritual daria certo sem o encanto das folhas, como até hoje.
Por isso, o africano nos ensinou, através de um Oriké (verso sagrado) o que significo, exatamente, o poder de Ossãe:
“ Sem folha não há orixá, não há o Axé!”
(Kosi ewe, kosi orisa, diz o ditado iorubano)
Dados
Dia: Quinta feira
Data: 5 de Agosto
Metal: Estanho
Cor: Verde e branco
Partes do corpo: o peito dos pés, parte da perna entre o tornozelo e o joelho.
Comida: fumo, mel, cachça (otin), milho vermelho, espigas regadas com mel.
Arquétipo: Pessoa equilibradas e capazes de controlar seus sentimentos e emoções, não deixam suas simpatias e antipatias interferirem nas suas decisões ou influenciarem suas opiniões das pessoas ou acontecimentos, aquele que não tem uma concepção estreita da moral e da justiça.
Símbolos: Ferros com sete pontas com um passaro, que é árvore com o ramos e uma ave pousada no topo.
Iroko
(Chlorophora excelsa) - Árvore africana, também conhecido como Rôco, Irôco, é um orixá, cultuado no candomblé do Brasil pela nação Ketu e, como Loko, pela nação Jeje. Corresponderia ao Nkisi Tempo na Angola/Congo.
No Brasil, Iroko é considerado um orixá e tratado como tal, principalmente nas casas tradicionais de nação ketu. É tido como orixá raro, ou seja, possui poucos filhos e raramente se vê Irôko manifestado. Para alguns, possui fortes ligações com os orixá chamados Iji, de origem daomeana: Nanã, Obaluaiyê, Oxumarê. Para outros, está estreitamente ligado a Xangô. Seja num caso ou noutro, o culto a Irôko é cercado de cuidados, mistérios e muitas histórias.
No Brasil, Iroko habita principalmente a gameleira branca, cujo nome científico é ficus religiosa. Na África, sua morada é a árvore iroko, nome científico chlorophora excelsa, que, por alguma razão, não existia no Brasil e, porém recentemente fora constatada a existencia de 5 árvores deste tipo raro, 1 no Gantois em Salvador, 1 noIlê Obá Nila no Rio de Janeiro, 1 na Casa Branca do Engenho Velho tambem em Salvador, as demais não foram confirmadas sua originalidade ainda, apesar dos relatos.
Para o povo yorubá, Iroko é uma de suas quatro árvores sagradas normalmente cultuadas em todas as regiões que ainda praticam a religião dos orixás. No entanto, originalmente, Iroko não é considerado um orixá que possa ser "feito" na cabeça de ninguém.
Para os yorubás, a árvore Iroko é a morada de espíritos infantis conhecidos ritualmente como "abiku" e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se vêem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se faça oferendas a Oluwere aos pés de Iroko, para afastar o perigo de que os espíritosabiku levem embora as crianças da aldeia. Durante sete dias e sete noites o ritual é repetido, até que o perigo de mortes infantis seja afastado.
O culto a Iroko é um dos mais populares na terra yorubá e as relações com esta divindade quase sempre se baseiam na troca: um pedido feito, quando atendido, sempre deve ser pago pois não se deve correr o risco de desagradar Iroko, pois ele costuma perseguir aqueles que lhe devem.
Iroko está ligado à longevidade, à durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos.
Oxóssi, do iorubá Òsóòsì, é um orixá da caça e da fartura, identificado no jogo do merindilogun pelo odu obará e representado nos terreiros de candomblé peloigba oxóssi.
Aqueles que permaneceram em Ketu deixaram de cultuá-lo por não se lembrarem mais como realizar os ritos apropriados ou por passarem a cultuar outras divindades.Pierre Verger, em seu livro Orixás, diz que o culto de Oxóssi foi praticamente extinto na região de Ketu, na Iorubalândia, uma vez que a maioria de seus sacerdotes foram escravizados, tendo sido enviados à força para o Novo Mundo ou mortos.
Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam Oxóssi não sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas, ainda assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes sobreviventes e Oxóssi se transformou, no Brasil, num dos orixás mais populares, tanto no candomblé, onde se tornou o rei da nação Ketu, quanto na umbanda, onde é patrono da linha dos caboclos, uma das mais ativas da religião.
Seu habitat é a floresta, sendo simbolizado pela cor verde na umbanda, e recebendo a cor azul clara no candomblé, mas podendo usar, também, a cor prateada nesse último. Sendo assim, roupas, guias e contas costumam ser confeccionadas nessas cores, incluindo, entre as guias e contas, no caso de Oxóssi e, também, seus caboclos, elementos que recordem a floresta, tais como penas e sementes.
Seus instrumentos de culto são o ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça. É um caçador tão habilidoso que costuma ser homenageado com o epíteto "o caçador de uma flecha só", pois atinge o seu alvo no primeiro e único disparo tamanha a precisão. Conta a lenda que um pássaro maligno ameaçava a aldeia e Oxossi era caçador, como outros. Ele só tinha uma flecha para matar o pássaro e não podia errar. Todos os outros já haviam errado o alvo. Ele não errou, e salvou a aldeia. Daí o epíteto "o caçador de uma flecha só".
Come tudo quanto é caça e o dia a ele consagrado é quinta-feira.
No Brasil, Ibualama, Inlè ou Erinlè é uma qualidade de Oxóssi, marido de Oxum Ipondá e pai de Logunedé. Como os demais Oxóssis é caçador, rei de Ketu e usa ofá (arco e flecha), mas se veste de couro, com chapéu e chicote.
Um Oxóssi azul, Otin, usa capanga e lança. Vive no mato a caçar. Come toda espécie de caça, mas gosta muito de búfalo.
Oxóssi é a expansão dos limites, do seu campo de ação, enquanto a caça é uma metáfora para o conhecimento, a expansão maior da vida. Ao atingir o conhecimento, Oxóssi acerta o seu alvo. Por este motivo, é um dos Orixás ligados ao campo do ensino, da cultura, da arte. Nas antigas tribos africanas, cabia ao caçador, que era quem penetrava o mundo "de fora", a mata, trazer tanto a caça quanto as folhas medicinais. Além, eram os caçadores que localizavam os locais para onde a tribo poderia futuramente mudar-se, ou fazer uma roça. Assim, o orixá da caça extensivamente é responsável pela transmissão de conhecimento, pelas descobertas. O caçador descobre o novo local, mas são os outros membros da tribo que instalam a tribo neste mesmo novo local. Assim, Oxóssi representa a busca pelo conhecimento puro: a ciência, a filosofia. Enquanto cabe a Ogum a transformação deste conhecimento em técnica.
Apesar de ser possível fazer preces e oferendas a Oxóssi para os mais diversas facetas da vida, pelas características de expansão e fartura desse orixá, os fiéis costumam solicitar o seu auxílio para solucionar problemas no trabalho e desemprego. Afinal, a busca pelo pão-de-cada dia, a alimentação da tribo costumeiramente cabe aos caçadores.
Por suas ligações com a floresta, pede-se a cura para determinadas doenças e, por seu perfil guerreiro, proteção espiritual e material.
As pessoas consideradas filhas de Oxóssi são alegres, expansivas, preferem agir a noite, como os caçadores. São faladores, ágeis e de raciocínio muito rápido. Sabem lutar e alcançar o que almejam, como que lançando uma flecha e acertando o alvo. Sabem dominar mas quando raivosos, ferem as pessoas com palavras e atitudes, como se fosse dada uma flechada. Quando amam, são zelosos e fieis, não toleram ser enganados. São muito trabalhadores e honestos.
Sete folhas mais usadas para Oxóssi
No Rio de Janeiro e em São Paulo, é sincretizado com São Sebastião.
Em Salvador, no dia de Corpus Christi é realizada uma missa, chamada de Missa de Oxossi com a participação das Iyalorixás do Candomblé da Casa Branca do Engenho Velho da Federação.
Oxossi (ou Odé ) é um Orixá da Santeria cubana. Representa o caçador infalível.
Odé é uma das deidades da religião yorùbá. Na santería sincretizado com São Alberto Magno e São Norberto, particularmente, em Santiago de Cuba, é "Santiago Arcanjo".
Odé é o Orixá caçador e protetor dos que têm problemas com a justiça.
É considerado mago ou bruxo. Faz parte dos Orishas guerreiros. Suas cores são o azul e o coral.
Filho de Obbatala e Yembó. Irmão de Shango, Oggun, Eleggua. Esposo de Oshun com quem teve o filho Logun Ede.
Sacrificam-se pombas, cabritos, galos, codornas, frangos, veados, galinha de angola, cutias, etc.
Ìbejì ou Ìgbejì - é divindade gêmea da vida, protetor dos gêmeos (twins) na Mitologia Yoruba, identificado no jogo do merindilogun pelos odu ejioko eiká.
Dá-se o nome de Taiwo ao Primeiro gêmeo gerado e o de Kehinde ao último. Os Yorùbá acreditam que era Kehinde quem mandava Taiwo supervisionar o mundo, donde a hipótese de ser aquele o irmão mais velho.
Cada gêmeo é representado por uma imagem. Os Yorùbá colocam alimentos sobre suas imagens para invocar a benevolência de Ìbejì. Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em sua honra.
O animal tradicionalmente associado a Ìbejì é o macaco colobo, um cercopiteco endêmico nas florestas da África subsariana. A espécie em questão é o colobus polykomos, ou "colobo real", que é acompanhado de uma grande mística entre os povos africanos. Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, e pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, daí eles serem considerados por vários povos como mensageiros dos deuses, ou tendo a habilidade de escutar os deuses. A mãe colobo quando vai parir, afasta-se do bando e volta apenas no dia seguinte das profundezas da floresta trazendo seu filhote (que nasce totalmente branco) nas costas. O colobo é chamado em Yorùbá de edun oròòkun, e seus filhotes são considerados a reencarnação dos gêmeos que morrem, cujos espíritos são encontrados vagando na floresta e resgatado pelas mães colobos pelo seu comportamento peculiar.
Na África , as crianças representam a certeza da continuidade, por isso os pais consideram seus filhos sua maior riqueza.
A palavra Igbeji que dizer gêmeos. Forma-se a partir de duas entidades distintas que coo-existem, respeitando o princípio básico da dualidade.
Contam os Itãs (conjunto de lendas e histórias passados de geração a geração pelos povos africanos), que os Igbejis são filhos paridos por Iansã, mas abandonados por ela, que os jogou nas águas. Foram abraçados e criados por Oxum como se fossem seus próprios filhos. Doravante, os Igbejis passam a ser saudados em rituais específicos de Oxum e, nos grandes sacrifícios dedicados à deusa , também recebem oferendas.
Entre as divindades africanas, Igbeji é o que indica a contradição, os opostos que caminham juntos, a dualidade. Igbeji mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados e que a justiça só pode ser feita se as duas medidas forem pesadas, se os dois lados forem ouvidos.
Na África, O Igbeji é indispensável em todos os cultos. Merece o mesmo respeito dispensado a qualquer Orixá, sendo cultuado no dia-a-dia. Igbeji não exige grandes coisas, seus pedidos são sempre modestos; o que espera como, todos os Orixás, é ser lembrado e cultuado. O poder de Igbeji jamais podem ser negligenciado, pois o que um orixá faz Igbeji pode desfazer, mas o que um Igbeji faz nenhum outro orixá desfaz. E mais: eles se consideram os donos da verdade.
Os gêmeos (Ibeji entre os Yorubas e Hoho entre os Fon) são objeto de culto. Não são nem Orixá e nem Vodun, mas o lado extraordinário desses duplos nascimentos é uma prova viva do princípio da dualidade e confirma que existe neles uma parcela do sobrenatural, a qual recai em parte na criança que vem ao mundo depois deles.
Recomenda-se tratar os gêmeos de maneira sempre igual, compartilhando com muita equidade entre os dois tudo o que lhes for oferecido. Quando um deles morre com pouca idade o costume exige que uma estatueta representando o defunto seja esculpida e que a mãe a carregue sempre. Mais tarde o gêmeo sobrevivente ao chegar à idade adulta cuidará sempre de oferecer à efígie do irmão uma parte daquilo que ele come e bebe. Os gêmeos são, para os pais uma garantia de sorte e de fortuna.
Existe uma confusão latente entre Ibeji e os Erês. É evidente que há uma relação, mas não se trata da mesma entidade, confundindo até mesmo como Orixá.
Ibeji, são divindades gêmeas, sendo costumeiramente sincretizadas aos santos gêmeos católicos Cosme e Damião.
Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc.
Seus filhos são pessoas com temperamento infantil, jovialmente inconseqüente; nunca deixam de ter dentro de si a criança que já foram. Costumam ser brincalhonas, sorridentes, irrequietas, tudo enfim que se possa associar ao comportamento típico infantil. Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e emocionais em geral, podem então revelar-se teimosamente obstinados e possessivos. Ao mesmo tempo, sua leveza perante a vida se revela no seu eterno rosto de criança e no seu modo ágil de se movimentar, sua dificuldade em permanecer muito tempo sentado, extravasando energia.
No Brasil,existe uma filha iniciada neste orixá,chamada Maria José de Moraes, que mora na cidade de Campinas-SP,conhecida entre os religiosos como Dofona de Ibeije,sendo iniciada pelas mãos do Babalorisá Augusto César do Ilê axé Omorodé Orixá N´la,primeiro homem iniciado por Mãe Menininha do Gantois,que fica no Bairro portão em Lauro de Freitas-BA.
Podem apresentar bruscas variações de temperamento, e certa tendência a simplificar as coisas, especialmente em termos emocionais, reduzindo, à vezes, o comportamento complexo das pessoas que estão em torno de si a princípios simplistas como "gosta de mim" ou "não gosta de mim". Isso pode fazer com que se magoem e se decepcionem com certa facilidade. Ao mesmo tempo, suas tristezas e sofrimentos tendem a desaparecer com facilidade, sem deixar grandes marcas. Como as crianças em geral, gostam de estar no meio de muita gente, das atividades esportivas, sociais e das festas.
No Brasil,existe uma filha iniciada neste orixá,chamada Maria José de Moraes, que mora na cidade de Campinas-SP,conhecida entre os religiosos como Dofona de Ibeije,sendo iniciada pelas mãos do Babalorisá Augusto César do Ilê axé Omorodé Orixá N´la,primeiro homem iniciado por Mãe Menininha do Gantois,que fica no Bairro portão em Lauro de Freitas-BA.
A grande cerimônia dedicada a Ibeji acontece a 27 de setembro, dia de Cosme e Damião, quando comidas como caruru, vatapá, bolinhos, doces, balas (associadas às crianças, portanto) são oferecidas tanto a eles como aos freqüentadores dos terreiros.
Ibeji na nação Keto, ou Nvunji nas nações Angola e Congo. É a divindade da brincadeira, da alegria; sua regência está ligada à infância. Ibeji está presente em todos os rituais do Candomblé pois, assim como Exu, se não for bem cuidado pode atrapalhar os trabalhos com suas brincadeiras infantis, desvirtuando a concentração dos membros de uma Casa de Santo.
É a divindade que rege a alegria, a inocência, a ingenuidade da criança. Sua determinação é tomar conta do bebê até a adolescência, independente do orixá que a criança carrega. Ibeji é tudo de bom, belo e puro que existe; uma criança pode nos mostrar seu sorriso, sua alegria, sua felicidade, seu engatinhar, falar, seus olhos brilhantes.
Na natureza, a beleza do canto dos pássaros, nas evoluções durante o vôo das aves, na beleza e perfume das flores. A criança que temos dentro de nós, as recordações da infância. Feche os olhos e lembre-se de uma felicidade, de uma travessura e você estará vivendo ou revivendo uma lenda dessa divindade. Pois tudo aquilo de bom que nos aconteceu em nossa infância, foi regido, gerado e administrado por Ibeji. Portanto, ele já viveu todas as felicidades e travessuras que todos nós, seres humanos, vivemos.
A palavra Eré vem do yorubá, iré, que significa "brincadeira, divertimento". Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”. O Ere(não confundir com criança que em yorubá é omodé) aparece instantaneamente logo após o transe do orixá, ou seja, o Ere é o intermediário entre o iniciado e o orixá. Durante o ritual de iniciação, o Ere é de suma importância pois, é o Ere que muitas das vezes trará as várias mensagens do orixá do recém-iniciado.
O Ere na verdade é a inconsciência do novo omon-orixá, pois o Ere é o responsável por muita coisa e ritos passados durante o período de reclusão. O Ere conhece todas as preocupações do iyawo (filho), também, aí chamado de omon-tú ou “criança-nova”. O comportamento do iniciado em estado de “Ere” é mais influenciado por certos aspectos de sua personalidade, que pelo caráter rígido e convencional atribuído a seu orixá. Após o ritual do orúko, ou seja, nome de iyawo segue-se um novo ritual, ou o reaprendizado das coisas chamado Apanan.
Símbolos: 2 bonecos gêmeos, 2 cabacinhas, brinquedos;
Plantas: jasmim, maçã, alecrim, rosa
Dia: domingo e segunda-feira para nações Ketu e Jeju Jexá;
Cor:azul , rosa, verde, mas na verdade gosta do colorido em si.
Metal: estanho. Seus elementos: fogo, ar.
Saudação:Omi Beijada! Bejiróó! farami sóibeji!.
Domínios: parto e infância. Amor união.
Comidas: caruru, cocada, cuscuz, frutas doces.
Animais: passarinhos.
Quizilas: morte, assobio.
Características: alegre, otimista, brincalhão, esperto, trabalhador, imaturo, birrento, voraz.
O que faz: ajuda a resolver problemas de crianças, dá harmonia na família, facilita uniões.
Riscos de saúde: alergias, anginas, problemas de nariz, raquitismo, acidentes.